segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Não são as circunstâncias que decidem a nossa vida


Não são as circunstâncias que 

decidem a nossa vida


A nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as historicamente conhecidas.
Mas assim como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição.
É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo mais problemática. Não pode orientar-se no pretérito.
Tem de inventar o seu próprio destino.
Mas agora é preciso completar o diagnóstico.
A vida, que é, antes de tudo, o que podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as possibilidades o que em efeito vamos ser.
Circunstâncias e decisão são os dois elementos radicais de que se compõe a vida.
A circunstância – as possibilidades – é o que da nossa vida nos é dado e imposto.
Isso constitui o que chamamos o mundo.
A vida não elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente, em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora.
O nosso mundo é a dimensão de fatalidade que integra a nossa vida.
Mas esta fatalidade vital não se parece à mecânica.
Não somos arremessados para a existência como a bala de um fuzil, cuja trajetória está absolutamente pré-determinada.
A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é sempre este, este de agora – consiste em todo o contrário.
Em vez de impor-nos uma trajetória, impõe-nos várias e, conseqüentemente, força-nos… a eleger.
Surpreendente condição a da nossa vida!
Viver é sentir-se fatalmente forçado a exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo.
Nem num só instante se deixa descansar a nossa atividade de decisão.
Inclusive quando desesperados nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir.
É, pois, falso dizer que na vida «decidem as circunstâncias». Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso caráter.
Ortega y Gasset